O Trauma é Brasileiro – Castiel Vitorino Brasileiro

O Trauma é Brasileiro.

É prática nas religiões de matriz africana que, antes de qualquer ação, fala ou rito, reverencie-se os ancestrais, os mais velhos. É uma maneira de lembrar, manter viva a memória dos ancestrais e, desse modo, torná-los contemporâneos, e também de pedir a permissão para que se iniciem os trabalhos.

A reverência prestada aos mais velhos propicia a manutenção de uma coletividade de história. Por isso, o exercício é sempre p de olhar para trás e para frente. Castiel Vitorino Brasileiro tem buscado em seu trabalho essas tradições ao resgatar os saberes de benzedeiras, rezadeiras e curandeiras pretas capixabas, que têm em seu ofício a manutenção do bem- estar e as práticas de cura por meio da integralidade entre corpo, mente e espírito.

Desde 2015, Castiel desenvolve pesquisa sobre a epiderme e as marcas externas e internas produzidas a partir da ficção da raça. A pele, como marcador de diferenças, multicores, espinhos e ervas daninhas, No entanto, o que vemos atualmente é um transbordamento propiciado pelos encontros das águas internas da artista que têm como partida suas experiências nos campos da psicologia, da arte e da macumba.

Suas preocupações são estéticas, políticas e, sobretudo, éticas. Correndo o risco de parecer redundante, esse trabalho só se torna possível mediante uma experiência encarnada e incorporada frente à questões que trata. Ele é resultado da criação de parcerias diversas, não no sentido dos acordos comerciais e trocas de serviços-, mas na produção de encontros. Castiel Brasileiro mobiliza pessoas e entidades ao jogar com diversos planos da existência. Não há como desvincular seu trabalho de uma dimensão espiritual e, por isso, sua leitura pede certo tipo de transcendência.

As somagramas propostas por Michael Keleman (1995) como metodologia clínica são um convite para a uma investigação íntima de si, nas gestualidades e movimentações dos nossos corpos, nas vibrações, sensações e energias que produzimos nos estados de paragem ou de movimento. As somagramas aquareladas de Castiel nos possibilitam pensar o corpo como um lugar de escrita. A grafia- desenho parte do corpo e nele encontra sentido. Ao catalogar seus estados somáticos e reconfigurar seu corpo, que se modifica e seus encontros com as águas marítimas, a artista sugere o corpo como território, um microcosmo do espaço amplo, e por isso é sempre modulável. Propões inventariar as sensações de modo a criar um corpo que é arquivo cujos fragmentos podem ser recuperados, revistos e postos à contemplação.

Seus amuletos de guerra trazem as imagens de objetos utilitários manufaturados pelos povos originários de Brasil e África. O trato com as substâncias orgânicas e inorgânicas que compõem os artefatos reveste os amuletos de autonomia. Resultam de um trabalho de arte feitiçaria que lhes confere vida. Esses objetos consagrados, quando acoplados ao corpo, agem na corporeidade de quem o usa e, também, no espaço-entorno.

Um amuleto serve para nos livrar de uma diversidade de males e carregos: os adoecimentos físicos, fraquezas, maus olhados, a violência do colonizador , as experiências as expectativas da cisgeneridade etc. aos olhos de quem possa infligir alguma violência, é sim um lembrete: Não mexe comigo, que eu não ando só. Os objetos jogam com as tensões entre passividade e agressividade, força e fragilidade, efemeridade e perenidade. Oferece uma amálgama de contradições que bailam, nem sempre amistosamente, nas encruzilhadas da vida.

 Castiel firma seu ponto no espaço expositivo reivindicando seu direito ao segredo e à fala. A boca como lugar de manutenção da violência colonial é também uma possibilidade de produção de autonomia. A fala surge como enunciação de liberdade e o segredo como estratégia de resistência. O jogo de negociações entre o verbo e o silêncio se dá na interioridade, daí a pergunta não é apenas “quem pode falar?”, mas, “quem nos autoriza a falar?”, ou “ sobre o que falar?”, ou “ como falar?”, ou “para quem falar?”.

O segredo é a inteligência africana que permite a manutenção da existência na violenta diáspora. O segredo é o que possibilita que a artista perfure as malhas que tentam imobilizar os artistas negros em lugares de silenciamento e inviabilidade. É a ginga e a mandinga, é o puro mistério, é a aproximação com a vida. O segredo é a encruzilhada. 

A exposição O Trauma é Brasileiro é a convocação. É um chamamento para adentrar o espaço de corpo-espírito e pés descalços. A sacralização do espaço contamina a galeria e rompe a assepsia da instituição que passa a abrigar múltiplas existências em seu interior. O gesto da artista que passa a abrigar múltiplas existências em seu interior. O gesto da artista fortalece o espaço, preenche-o de significados e sentidos, torna-o real. Castiel transforma a galeria em seu cazuá, que está pronto para servir de abrigo e, quem sabe, despertar processos íntimos de comunitários de cura.

Napê Rocha.

*A exposição contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 019/2018. 

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Castiel Vitorino Brasileiro

Com 22 anos e graduanda do 9º período do curso de Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, Castiel Vitorino Brasileiro pesquisa e inventa relações em que corpos não-brancos se desprendem das amarras da colonialidade. Idealizadora do projeto de imersão em processos criativos decoloniais DEVORAÇÕES. Produz estéticas e discursos que colaboram para a desestabilização de sistemas racistas, que ao longo da história subalternizam populações negras.

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Exposição: O Trauma é Brasileiro, Castiel Vitorino Brasiliero.
Dia: 11 de junho de 2019 até 24 de agosto.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca.

Trabalho do chão – Cláudia França

Trabalho do chão é constituído de uma exposição artística propriamente dita, de cunho instalacional, e de ações diversas de formação, interlocução e mediação elaboradas a partir dos principais temas e questões da exposição. A intervenção toma o tema transversal da domesticidade, apresentando-nos uma composição de “casa”, compreendida inicialmente como espaço organizado por móveis e suportes de madeira que definem ambientes relativamente privados, servem de anteparo e proteção para objetos menores e são passíveis de causar estranhamento para a percepção ordinária da ordem das coisas. Para o indivíduo que percorre trabalho do chão, poderá lhe parecer que o ambiente está em desordem, em função das posições inusuais e instabilidade dos objetos. Desordem e ordem são dois termos extremos, dentre os quais há uma gama de valores e ações diárias, umas mais visíveis do que outras, que nos esforçamos em agir e alcançar. O indivíduo é estimulado a pensar, comparativamente, entre essa dicotomia no que vê, presencialmente – desordem, instabilidade – e no que concebe como casa ideal (a ordem e a simetria das formas).

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A casa é tomada como tema por meio do qual diversos saberes e ações se articulam, voltados à formação de diversos públicos, fora e dentro dos ensinos considerados formais. A instalação pretende ainda expor a fragilidade ou tensão dos limites entre o que nomeamos de espaço público e espaço privado, a instabilidade das coisas, confundindo também nosso velho imaginário sobre a casa ideal. Podemos ainda nos perguntar: quando um espaço íntimo estará finalmente organizado? Será o espaço íntimo um correlato do espaço interior de uma subjetividade? Como é a casa dentro do ser? Ela se espelha em seu habitat?

A exposição “Trabalho do Chão” conta com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 019/2018.

Cláudia França

Cláudia França é artista mineira, mas reside em Vitória desde 2016, atuando na UFES como Professora Associada de Desenho do Centro de Artes. É doutora em Artes pela Unicamp (Campinas, SP), mestre em Artes Visuais pela UFRGS (Porto Alegre, RS) e bacharel em Desenho e Escultura pela UFMG (Belo Horizonte, MG). Durante a exposição, haverá fala da artista e de membros convidados, sobre temas afins à domesticidade.

Exposição: Trabalho do Chão, Cláudia França.
Dia: 19 de março de 2019 até 25 de maio.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca.

Ventos em Vênus movem montanhas – Tetê Rocha

O corpo sempre fez parte do imaginário artístico, materializado em diferentes processos, linguagens e materiais, que tanto exaltam suas proporções miméticas ou perfeitas, quanto introduzem simplificações, geometrizações e deformações em suas formas e volumes.  Se por um lado as representações do corpo feminino abarcam uma gama diversificada de temas: musas, santas, modelos, símbolos sexuais, por outro, essas representações revelam valores ou tendências estéticas variadas, confirmando a sua relação com a cultura e variações de gosto em diferentes tempos. Assim, houve períodos históricos em que o padrão de beleza primordial consistia em formas volumosas e atarracadas, em outros se evidenciou mais o corpo magro, esbelto ou longilíneo.

Após o término da Segunda Guerra Mundial o corpo liberta-se de sua antiga representação idealizada ou fictícia, tornando-se objeto, suporte, matéria e motor da obra, refletindo a intenção dos artistas de transgredir ou questionar os valores do passado, pleiteando maior autonomia e liberdade criativa. O corpo feminino desnudou-se, desvelou toda a sua complexidade física, vulnerabilidade, potencialidades e limitações físicas e biológicas, com o propósito de romper tabus sexuais e promover reflexões variadas: perversão, violência, medo, frustração, dor, anseios, desejos, sonhos…

É nessa esteira que transita a poética da jovem artista Tetê Rocha, como atesta a pesquisa artística por ela realizada ao longo do corrente ano, com o prêmio conquistado por ela no Edital de Seleção de Projetos de Exposições de Artes Visuais 15/2017, da Secretaria de Estado da Cultura, cujo resultado exibe nesta primeira mostra individual denominada, Ventos em Vênus movem montanhas. Por meio de um com junto de fotografias de grandes dimensões, de seu próprio corpo obeso, a artista questiona os padrões instituídos pela publicidade, pela indústria da beleza e da moda na contemporaneidade. Algumas das imagens integram uma instalação, composta também por elementos naturais, objetos manufaturados, uma balança de precisão, fotografias e um vídeo.

Tomando como referência a Vênus de Willendorf, pequena estatueta pré-histórica de formas roliças(de apenas 11 cm de altura, pertencente ao Museu de História Natural de Viena, na Áustria, que teria servido de amuleto, objeto ritualístico, símbolo de fertilidade ou de proteção contra as forças sobrenaturais), a artista confecciona em argila quarenta e nove damas de um jogo de xadrez, de nádegas e seis fatos, mas todas diferentes entre si. Coloca essas peças sobre uma camada de terra e se deixa fotografar descalça, caminhando entre esses ídolos, como se revirasse as camadas da memória e nos mostrasse que a magreza nem sempre foi tida como símbolo de beleza. Em outra fotografia, confecciona o mesmo número de damas de xadrez em resina translúcida, exatamente iguais, com corpos esbeltos e padronizados, instalando-as sobre uma superfície rígida ou impenetrável de concreto.

Na maioria das fotos, a jovem artista manipula, com humor e ironia e de maneira ousada e corajosa, seu próprio corpo transbordante, transformando-o em objeto, protagonista e tema de sua praxe criativa. Propõe abordar assim, determinadas situações enfrentadas diariamente pelos detentores de corpos obesos, pela falta de planejamento urbano, de acessibilidade no transporte público, locais de trabalho, escolas, restaurantes, cinemas… O corpo “fora de padrão” é excluído do e dos equipamentos e do mobiliário integrado aos diferentes espaços, que não são adaptados para acomodar corpos transbordantes. Tetê Rocha divide também com o público a frustração de não encontrar roupas que se adaptem a seu corpo volumoso, considerando que a indústria da moda é pensada para satisfazer o desejo de exaltar a sensualidade dos corpos esbeltos.                                                                                                                               

A artista afirma que na adolescência as formas transbordantes de seu corpo eram motivo de frustração, por constatar que em uma cidade litorânea os corpos obesos são interditados de exibir suas formas exuberantes na praia. Mas, na maturidade isso deixou de importuná-la, passando a apreciar e a ver beleza e sensualidade em suas formas fartas, sem almejar atingir um padrão corporal perfeito, ao entendê-lo como construção social e fetiche. E ao devorar uma reprodução da Vênus de Willendorf, construída com calda de caramelo, busca discutir a relação entre natureza e cultura, realidade e mito, submissão e emancipação, transgressão e quebra de paradigmas e de tabus sociais.   

Texto: Almerinda Lopes

A exposição contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 015/2017.

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Tetê Rocha

Nasceu em Vitória – ES, em 1983. Formada em Artes Plásticas pela Ufes; pós-graduada em Gestão Cultural pelo Senac SP, atuou como arte-educadora e produtora cultural, e atualmente está se especializando em Cenotécnica pela Escola SP de Teatro.

Caminhos Possíveis – Rafael Segatto

O Abridor de Caminhos

Esta primeira mostra individual do fotógrafo Rafael Segatto (1992) resultou da pesquisa reflexiva e prática que ele desenvolveu com o prêmio conquistado no Edital nº 15 da Secretaria de Estado da Cultura, na categoria Projetos de Exposições de Artes Visuais (2017). O título caminhos possíveis é tão instigante quanto sugestivo. Aponta para questões que, embora pareçam opostas, na verdade se entrecruzam: objetividade e subjetividade, razão e sentimento, realidade e imaginação, possibilidade e imprevisibilidade, certeza e dúvida, decisão e acaso. Aproxima o pensamento e o campo da arte, pois qualquer processo de criação remete à ideia de percurso, abertura e descoberta de novos caminhos. O ato criador, portanto, demove o artista de sua zona de conforto ou de segurança, da rotina e das normas que lhe são impostas pelo sistema hegemônico.

A vontade ou necessidade de desvelar novos caminhos levou Rafael Segatto à condição de exilado – mesmo que em mobilidade espontânea – em Belém do Pará. Lá ele mergulhou em uma realidade que lhe era até então distante e desconhecida. Durante a residência artística, realizada na Associação Fotoativa, tendo sido contemplado posteriormente com a bolsa do prêmio do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo, o jovem se deparou, inicialmente, com o estado de abandono, degradação das construções históricas, caos urbano e conflitos sociais, que lhe sugeriram a realidade de tantas outras cidades brasileiras. Mas lhe causaram mais impacto a grandiosidade dos rios, as cores e a exuberância da luz e da vegetação local, por atuarem como forças desmobilizadoras de conceitos, hábitos e visões preconcebidos.

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Partindo do registro fotográfico de imagens capturadas durante essa experiência imersiva na Amazônia, mas também recorrendo a leituras, reflexões e trocas, o artista articulou a tessitura criativa de caminhos possíveis. Trata-se de uma instalação que perpassa diferentes dimensões que se complementam – ela reflete sobre a vida, a construção de afeto e de alteridade; mas também aponta para a circularidade do tempo. No entanto, não é ao tempo linear e cronológico posto pela ocidentalização do mundo que se refere o artista. Ele fala de um tempo biológico ou corporal, guindado pelo aqui e agora, ou seja, pelos fenômenos da natureza, como ocorreu com nossos ancestrais. É este tempo que continua orientando a vida cotidiana de muitas comunidades que dependem da pesca ou da agricultura para sobreviver: fases da lua, posição das estrelas, movimento das marés, direção dos ventos, períodos de chuva ou de seca, dia e noite…

caminhos possíveis compõe-se de um conjunto de fotografias digitais impressas com pigmento mineral, sobre grandes suportes de papel fotográfico: um tríptico, denominado A Queda do Céu, e o políptico em forma de cruz, abridor de caminhos e a suspensão do tempo, além de mudas de aroeira plantadas em vasos, posicionados nos cantos da galeria. Os trabalhos fazem referência à ruptura com o tempo cronológico e à energia cíclica, que rege a natureza e as travessias da vida. Fazem menção, ainda, à figura de Exu, orixá cultuado pelas religiões de matriz africana e responsável, segundo Segatto, “por conectar o mundo material ao mundo espiritual, além de ser considerado o guardião dos caminhos”.

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Para teóricos como Philippe Dubois, uma imagem digital não se caracteriza mais como potência “indicial” ou “rastro”, uma vez que, diferentemente da fotografia analógica, não resulta, necessariamente, de algo que se colocou diante da objetiva em um dado momento. As câmeras digitais, smartphones e celulares tornaram as imagens pura ficção ou invenção. Resultam de programas, que permitem muito pouca interferência e mediação do sujeito que manipula o aparelho, e que permitem incluir nelas coisas e lugares nos quais nunca estivemos. Além disso, a imagética gerada por tais aparelhos não se destina mais a circular impressa em papel, para rememorar e perpetuar a memória de alguém querido ou um acontecimento que não queremos esquecer. As fotografias digitais são imagens efêmeras, nascem para circular no fluxo das redes sociais e para serem armazenadas na memória da câmera ou do computador por curto tempo, pois logo serão substituídas por novas imagens. Mas não é nessa esteira que transitam as fotografias sobre a pesca produzidas por Rafael Segatto, que subvertem ou põem em xeque tais prognósticos e preceitos teóricos. Até porque o artista continua se deslocando com a câmera, para flagrar aspectos do mundo que lhe interessam e com os quais interage. Também não se pode ignorar que tais imagens acabam se submetendo a determinadas trucagens ou interferências feitas no ato de edição, que passam pela saturação da cor, alteração de enquadramentos ou cortes.

O artista submete, assim, tal imagética a seu olhar sensível, elegendo a iconografia que melhor se ajusta ao conceito por ele formulado e ao contexto em que visa inseri-la, o que permite identificar o seu propósito de dialogar com a pintura. Isso se desvela na potência e intensidade luminosa do azul, geradas pela impressão das fotografias mediante a utilização de pigmento mineral. Essa cor reverbera por todo o espaço, tornando rio e céu um todo inseparável. O azul é atravessado apenas por uma forma pontiaguda vermelha, que corta o espaço como um raio, como se o artista pintasse com a luz. A essas características soma-se o resultado da decisão de ampliar e imprimir as fotos em dimensões que lembram as das telas pictóricas. Mas é ao dispor as imagens em forma de cruz que o artista destaca a encruzilhada desses dois caminhos, inserindo ali uma composição que se diferencia das demais pela cor e pelos elementos nela expressos: um conjunto de peixes, que sugere uma natureza morta. Isso torna a imagem o ponto focal, ao fazer convergir para ela o olhar do espectador, como no punctum de Roland Barthes. Mas essa composição não deixa de traduzir a ideia de oferenda a Exu, “senhor da fertilidade e do dinamismo, o criador do mundo e dos homens, o guardião da ordem e da desordem” (Vagner da Silva, 2013). A referência a Exu também é expressa pelos vasos de aroeira, planta que tem o poder de limpar e proteger o espaço expositivo e o caminho de quem por ele transita. Na tessitura de caminhos possíveis enredam-se, portanto, experiências, vivências, pensamentos e memórias afetivas e culturais do autor.                                                                                                                                                                               

Texto: Almerinda Lopes

*A exposição contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 015/2017.

Rafael Segatto

Nascido em Vitória, o artista é graduado em jornalismo e realiza projetos em artes visuais e tem a fotografia como principal linguagem. Em seus trabalhos ele parte da imagem-documento para refletir sobre estruturas de poder na sociedade a partir da relação entre memória afetiva e identidade social.

Exposição: Caminhos Possíveis, Rafael Segatto.
Dia: 01 de outubro de 2018 até 01 de dezembro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca!

 

AMAS – Fisionomias e Desmembramentos – Luciano Feijão

 AMAS – Fisionomias e Desmembramentos

Luciano Feijão, 2018, vários formatos, nanquim sobre papel, Galeria Homero Massena.

A Negra – evocação da infância de Tarsila, das amas de leite, do ambiente ainda impregnado pela dinâmica escravocrata que tanto compareceu nas grandes fazendas onde vivia. Pintura que sustenta o Modernismo brasileiro a partir do “gosto pelo primitivo”. Sustenta ainda a ideia de uma iconografia nacional que, de maneira alegórica, contribuiu para circunscrever mulheres negras na construção ininterrupta de uma subjetividade racista secular.

AMAS – as formas que se racham para abrir um ponto de questionamento na concretude das “provas cabais”, deixando escorrer do desenho o fluxo imaterial das práticas históricas, que remetem ao chão mesmo das tensões e reviravoltas, à luta de forças, aos modos, por vezes incongruentes, sobre como a experiência da arte se atualiza. Aqui a figura da ama de leite insurge contra a racionalidade modernista, para se tornar uma proposição política insana. O leite que se pretende beber agora precisa do esforço dos seus filhos para sugá-lo, para que se reestabeleçam novas tentativas de criar corpos impetuosos, contrários a essa intangibilidade que nos tornamos depois da escravidão brasileira, a que produziu a subjetividade mais cruel, sutil e duradoura da história.

Fisionomia versus desmembramento.

A Negra – que neste contexto é fisionomia – encontra-se numa via negativa, entrelaçada a uma objetivação e achatamento do mundo, produzindo certezas e estereótipos característicos de uma dominação essencial.

Se pensarmos que A Negra não foi produzida para proporcionar a concepção inequívoca de uma comunidade que exige ser vista como parte constitutiva de mundo; se não existe espaço para que esta pintura dispare a própria visibilidade e consciência negra como uma experiência de luta na esfera pública, cabendo, portanto, a esta mesma comunidade, servir unicamente para preencher o papel de tipo etnológico e de produção de valor capitalista, então não há outra opção em AMAS que não seja se apropriar da pintura de Tarsila para fazer deste objeto a expressão de sua própria negação.

AMAS – que neste contexto é desmembramento – tenta manter o passado ativo no presente através da quebra da moldura. Moldura é fechamento. No desmembramento, os desenhos não estão condicionados a características fisionômicas, que trazem um sentido único à imagem proposta, mas propicia a capacidade de atribuir uma carga discursiva desindexada de uma certeza objetiva, ampliando, dessa forma, os efeitos reflexivos e críticos que estas imagens podem proporcionar.

A visão confortável do passado deve ser substituída pela visão política do presente. Na demarcação conflituosa dos espaços, a aposta no desenho – enquanto campo de atuação – talvez seja a opção pragmática de fazer com que os desenhados se convertam, em alguma instância, em documentos com validez política.

AMAS apropria-se de A Negra, trabalhando contra a hegemonia imaculada do objeto/imagem/propriedade. AMAS exige a presença de Tarsila, a convoca através de sua pintura, problematiza sua monumentalidade diante de corpos negros deformados. A Negra depara-se ao discurso antagônico de AMAS, se apresentando na atualidade do sistema de desigualdades no Brasil para desmitificar a si própria.

Para todas as amas, do passado e do presente; que vosso leite, antes propriedade de homens e mulheres brancas, seja hoje o combustível vivo de sua luta. Que o vínculo maternal, antes fictício, criado como artifício para que fosse suportável amamentar o filho branco de seu algoz, abra espaço para um amor não ficcional que possa fecundar novamente a criança que a usurparam, nascendo assim um novo corpo sensível aos atravessamentos da vida, que, na incidência sobre este plano comum, seja capaz de produzir mudanças significativas.

Texto: Luciano Feijão

*A exposição contou com o apoio do Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura), pelo edital 015/2018.

Luciano Feijão

Luciano Feijão nasceu em Vitória (ES), em 1976. É graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com mestrado em Artes pela mesma instituição, em 2014. Participou de exposições individuais e coletivas de desenho, ilustração e gravura em Vitória, São Paulo, México e Los Angeles, com destaque para o SP Estampa (2012) na Galeria Gravura Brasileira, 1ª MACLI – Mostra de Arte Contemporânea em Literatura Infantil (2015), no Centro Cultural Sesc Glória e Torções (2016), no Museu Capixaba do Negro (Mucane). 

Foi membro-fundador do grupo Célula de Gravura, com pesquisa em litografia. Atualmente coordena o Núcleo de Pesquisa em Ilustração Editorial (Nupie) e o Grupo de Estudos em Ilustração/SESC Glória, em Vitória. Atualmente é professor substituto de Desenho, no Departamento de Artes Visuais/Centro de Artes/Ufes. É ilustrador, tendo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, Folha de São Paulo, Editora Abril, Editora Record, Bebel Books, Revista Gráfica – Arte Internacional entre outros.

Exposição: AMAS – Fisionomias e Desmembramentos, Luciano Feijão.
Dia: 13 de junho de 2018 até 08 de setembro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca!

Tessitura: Coleção José Ronaldo da Rocha Copolillo & Família

Grandes nomes da arte brasileira reunidos na Galeria Homero Massena em uma exposição inédita no Estado. A exposição Tessitura: Coleção José Ronaldo da Rocha Copolillo & Família traz obras de artistas atemporais como: Levino Fanzeres,  Di Cavalcanti, Djanira, Guignard, Volpi, Clóvis Graciano, Burle Marx, Orlando Teruz, Sonia Ebling,  Amilcar de Castro, Lygia Clark, Tomie Ohtake, Bruno Giorgio, Antônio Maia, José Pancetti, Tarsila  do Amaral, Manabú Mabe, Milton da Costa, Enrico Bianco, Rubem Valentim,  Ismael Nery, Portinari.

Com curadoria de Gorete Thorey e texto da professora e pesquisadora Almerinda Lopes, Tessitura exibiu trabalhos selecionados entre pinturas e esculturas que contam um pouco da história da arte no Brasil.

Reminiscências, arte e educação

De acordo com José Ronaldo, o ato de colecionar teve um início despretensioso com álbuns de figurinhas e selos postais dentro de casa, além de frequentar por vários motivos o Centro de Vitória. “Minhas primeiras lembranças foram com a minha mãe que gostava de arrumar a casa e botava quadros e móveis por todos os cantos, com as minhas coleções de figurinhas e selos junto com meu avô. Além de estudar, passeava muito no Centro da Cidade e frequentava a Galeria Homero Massena. Quando cresci, trabalhei próximo e isso me fez ter mais vontade de me inserir no mundo das artes”.

A exposição, assim como todas as outras que serão abertas na galeria, vai contar com um calendário especial de atividades educativas. Haverá bate-papo com visitação guiada, entre outras ações. “A Galeria é um ótimo espaço de troca de informações e aprendizado, além de ser frequentada por estudantes. Acho legal pois é uma ótima ocasião para as pessoas conhecerem tantas obras e as ações educativas”,  conclui José Ronaldo

“TÁTICAS DE GRAFFITI E NÃO GRAFFITI” DE RENATO REN

Levantando questões acerca do real espaço da arte urbana Táticas de Graffiti e Não Grafitti, primeira exposição individual do artista plástico Renato Ren, leva à Galeria Homero Massena um registro (fotografias e vídeo) dos trabalhos executados pelas ruas  da Grande Vitória ao longo dos últimos nove meses. No conjunto de ações que compõem essa pesquisa, Ren, explora diferentes meios e desdobramentos do graffiti inserido no cenário underground e as suas possíveis relações com a arte contemporânea e os espaços ditos institucionais.

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Segundo o artista, o acesso ao público nas ruas é infinitamente maior, assim como a liberdade para atuar de forma crítica. O movimento do graffiti, que ganhou força com o crescimento da cena Hip Hop americana a partir da década de 1980, é subversivo em sua essência, um respiro marginal em meio à sólida paisagem urbana. Ren questiona a domesticação de tal prática ao afirmar que: “Não podemos ignorar sua condição contracultura ou delimitar o graffiti ao uso de tinta spray sobre um muro, o graffiti nunca é feito a partir de uma encomenda”, em contrapartida à linguagem estética que tem se tornado moda. Com um projeto político de observação periférica Táticas de Graffiti e Não Grafitti problematiza o que popularmente pode ser considerado graffiti, o que entendemos por patrimônio público e privado, o abandono e a degradação ambiental urbana, os espaços destinados à publicidade nas cidades, entre outras questões.

A exposição, aprovada no Edital 015/2017 da Secult – ES, tem Clara Sampaio como curadora e projeto de arte educação desenvolvido por Kamilla Albani. A abertura da exposição está marcada para o dia 24 de outubro de 2017, às 19h, na Galeria Homero Massena.

Renato Ren

Nascido em São Paulo-SP, Renato Ren se mudou para Viana- ES, onde encontrou no graffiti sua primeira relação com a arte. Ao longo dos anos, passou a ter contato com diferentes referências, transformando as antigas “tags” em um trabalho geométrico, hoje
facilmente reconhecido pelas ruas. Anos depois, decidiu estudar Artes Plásticas na Ufes, onde passaria a experimentar a simbiose dos dois universos: a arte contemporânea de acesso mais restrito junto ao que acredita realmente comunicar e ser capaz de deixar a cidade minimamente surpreendente. Além de artista, é MC no grupo de RAP Conteúdo Paralelo.

Exposição: “TÁTICAS DE GRAFFITI E NÃO GRAFFITI”, Renato Ren.
Dia: 25 de outubro de 2017 até 03 de fevereiro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EXPOSIÇÃO “O VÉU DO REAL”

convite-formação

Aconteceu nos dias 05 e 06 de julho de 2017 a formação de professores da exposição “O véu do real” da artista Re Henri. A ação educativa  contou com a presença da arte-educadora Carla Borba, que apresentou o material educativo da exposição e realizou propostas educativas com os professores. A artista Re Henri também marcou presença na formação e falou sobre seu processo criativo, além de conversar com os participantes e tirar dúvidas.

“O véu do real”

Durante sete meses de pesquisa, a artista adquiriu uma série de objetos em mercados de
pulga, ferros-velhos e feiras de antiguidades. Com base nesses achados, construiu objetos
híbridos compostos por espelhos, lupas, pinças, acrílicos e fotografias antigas. Uma vez que as fotografias costumam ser abandonadas quando a impermanência do objeto fotografado entra em conflito com a permanência da imagem fotografada. Refletindo sobre a materialidade da imagem e também sobre as camadas de realidade impregnadas em registros fotográficos, a artista propõe uma instalação que se conforma como um grande laboratório de pesquisa sobre o real.

“O véu do real”
exposição de Re Henri

Galeria Homero Massena
abertura: 11 de julho às 19:00;
de 12 de julho a 07 de outubro de 2017

segunda a sexta de 9:00 às 18:00; sábados de 13:00 às 17:00

“O véu do real” exposição de Re Henri

 

O véu do real

O retrato tem ocupado uma importância central na prática artística de Re Henri. É atualmente ao redor dele que pesquisa e cria seus trabalhos, objetos tridimensionais que constrói a partir de materiais encontrados e modificados. Lidando com assuntos do campo psicanalítico como imaginário, inconsciente e enigma da morte, a artista explora o fascínio por fotografias antigas.

Em seu mergulho para a criação desta exposição a artista revisitaria, além de álbuns pessoais, o acervo de retratos anônimos que colecionou ao longo dos anos. O encontro com a figura do desconhecido, em vez de suscitar a busca pelo fantasma e as histórias por detrás da imagem, levaria a artista a se questionar sobre o abandono desses registros encontrados em feiras de antiguidades, mercados de pulga e outros. O desapego pelo documento seria uma tentativa de esquecer o objeto fotografado?

 

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A perda dolorosa do pai a colocaria frente a essa questão. A arte seria uma maneira de salvar os resquícios de memória que permanecem vivos. Assim, partindo de uma concepção do psicanalista Jacques Lacan sobre o real, a artista se lançaria à investigação sobre o instante esvanecido: é ele o fragmento do que jamais poderemos apreender por completo.

Refletindo sobre a materialidade da imagem e também sobre as camadas de realidade impregnadas em registros fotográficos, a artista propõe uma instalação que se conforma como um grande laboratório de pesquisa. Nela, objetos comuns ao ambiente científico se fundem a aparatos ópticos como lentes, lupas e espelhos. Os experimentos, divididos em núcleos de observação, parecem perturbar o que está gravado no papel: seriam esses mecanismos capazes de acessar o real?

Clara Sampaio

* A exposição contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 015/2016.

Exposição: O véu do Real, Re Henry.
Dia: 11 de julho de 2017 até 07 de outubro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca.

“A Memória e o Futuro da Arte Contemporânea no Espírito Santo”

Aconteceu na última quarta-feira (03) na Galeria Homero Massena, a mesa redonda “A Memória e o Futuro da Arte Contemporânea no Espírito Santo”. No encontro, os artistas e pesquisadores Bernadete Rubim e Thiago Arruda, abordaram a importância da atuação da Galeria no cenário contemporâneo, inclusive em revelar novos nomes das Artes Visuais no Estado. O evento que dá continuidade às comemorações dos 40 anos da Galeria, também contou com a presença do Subsecretário de Estado da Cultura, José Roberto Santos Neves. Na ocasião, também foi debatido o texto (abaixo) de Nenna Ferreira, que saiu no Caderno Pensar no dia 29 de abril de 2017.

gHM – LEMBRANÇAS AO FUTURO
por Nenna Ferreira

Impressiona a longevidade da gHM-Galeria Homero Massena, primeiro espaço
estruturado especificamente para abrigar exposições de arte no ES. Essa longevidade é
ainda mais significativa, por estar inserida em um ambiente cultural reconhecidamente
precário. São quarenta anos… E nesse momento de sua trajetória, creio ser
interessante imaginar – em exercício de proposição conceitual – um destino possível.

Desde os primeiros rascunhos de sua criação, tentei influenciar para que o projeto
assumisse um compromisso exclusivamente contemporâneo – ou de “vanguarda”
como se dizia na época. Não foi o que aconteceu. Na inauguração (sintomaticamente
incluída em comemorações ligadas ao golpe militar de 1964!…) e durante os primeiros
anos, optou-se por misturar todas as possibilidades, desde que predominasse um
academicismo lesado, temperado com pitadas de modernismo defasado.

Mesmo assim, com o passar do tempo, o espaço começou a abrigar exposições menos
provincianas, permitindo o surgimento de novos talentos e apresentando artistas
interessados em processos mais inovadores e em alguns casos, contrário ao sistema
dominante. Recusei-me a participar de eventos na galeria até 1979, quando montei a
instalação “Taru”, utilizando pela primeira vez a tecnologia de vídeo e ao mesmo
tempo destacando em vermelho na parede branca, a palavra do futuro imediato:
ANISTIA. Essa é uma característica que permeou a trajetória da galeria: o contraste
entre a ruptura e o conservadorismo.

Essa vontade “contemporânea”, mesmo que não generalizada, está presente na
história da galeria, assim como o espaço da galeria está presente na trajetória de todos
os artistas locais que se aventuraram no desenvolvimento de novos conceitos,
produzindo exposições que dialogaram efetivamente com a invenção formal e que
aproveitaram com inteligência o espaço disponível. Em doses significativas ou residuais
– dependendo da direção da galeria – tivemos uma aproximação constante com
linguagens e conceitos atualizados. À partir do início do século atual, se beneficiando
principalmente da circulação de informações que os novos meios – principalmente
internet – trouxeram para a compreensão e interação com a arte produzida nos
grandes centros nacionais e internacionais, a galeria passou a ser referência em
contemporaneidade no estado.

A memória me permite, certamente com omissões importantes, alguns exemplos
ilustrativos: a exposição de gravuras e esculturas de Frans Krajcberg em 1978, a mostra
do então jovem Paulo Herkenhoff em 1980, a coletiva “Pinturas e o que Pintar” que
montei em parceria com o grupo Balão Mágico da Ufes em 1985, a individual de Eliza
Queiroz “Wonderbra” em 2003, a intervenção radical do Coletivo Maruípe em 2004, a
mostra “Projéteis” de Marcelo Gandini em 2009, o apoio da galeria aos projetos
performáticos de Marcus Vinícius e tantas outros eventos, que tornariam essa listagem
longa… Sem esquecer os meus momentos, pois transformei em ritual íntimo a
realização de uma individual a cada década: a já citada “Taru” nos anos 70, “Noturnos”
nos 80, “Vydeo” nos 90. Neste século, além de “Brasil”, em 2005, me despedi do
espaço com a instalação “Tempo” extensão da mostra “Meditações Extravagantes”,
apresentada no MAES em 2012. São lembranças indeléveis.

Lembranças que reafirmam uma trajetória contínua de flerte com uma arte repleta de
energia criativa. O que me leva a desejar que o cinquentenário da gHM, em 2027, seja
comemorado com a confirmação da utopia desejada durante o processo de sua
criação e alimentada subversivamente durante todos esses anos: um laboratório de
riscos capaz de evidenciar a capacidade criativa dos novos talentos que continuam a
surgir na arte produzida no Espírito Santo. A arte como “cosa mentale”.

[*] Um olhar, em formato de crônica, sobre o passado e importância da gHM já escrevi 
– aqui mesmo no Pensar – durante as comemorações de 35 anos da galeria. O texto 
está disponível no acervo online de A GAZETA. Outro texto sobre o mesmo tema, com 
pesquisa documental importante é a dissertação de mestrado de Bernadette Rubim, 
disponível no endereço: 
http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_3949_monografia%20Completa.pdf