VIDEOGRAFIAS DO CONVÍVIO

A imposição do distanciamento e isolamento social pela crise sócio-sanitária em que nos encontramos neste início de século nos obrigou novas sociabilidades, outras expressividades e afetividades: uma reorganização do CONVÍVIO. Viver em proximidade; ter convivência: qual nossa perspectiva de futuro? Como tomamos partido de um senso de sociedade, comunidade, cooperatividade, em que fortalecer a existência de nós mesmos, fortalece a existência do outro? Ter relações cordiais; dar-se bem, a fim de garantir a autonomia de sujeitos e suas batalhas. E são nessas “condições culturais dribladas” por cada sujeito em seu lugar de pertencimento, em adaptar-se, habituar-se a condições extrínsecas (físicas, culturais etc.), em ser social, que se pode remargear periferias e centros, a fim de compartilhar do mesmo espaço; coexistir, entendendo que se reconhece a humanidade na diversidade. Entretanto “A Grande Aceleração” a partir do Antropoceno tem reestabelecido à condição humana em seu imperativo sobre a biodiversidade, a remodelação da paisagem, a cidade, a alta tecnologia, e ao mesmo tempo reforçado a precarização do humano. A saída por uma revisão histórica traria a possibilidade de esboçar uma linha de fuga ao futuro.  

A Galeria Homero Massena exibe a 3ª edição de sua mostra de vídeos, neste ano de 2021, VIDEOGRAFIAS DO CONVÍVIO. Interessada em discutir as possibilidades discursivas da arte por intermédio da linguagem videográfica. A GHM propõe como temática o CONVÍVIO, atenta à produção em audiovisual no campo da arte e sua larga exibição e relevância institucional na contemporaneidade. 

Nicolas Soares

Curadoria

Coordenador GHM

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PROGRAMA #1

“CASA-TEMPO”

  • Duo FurtacorAcervos compartilhados, 4’04”.
  • Diego RamosA Casa Entre o Rio e o Mar, 6’48”.
  • Jaksa chuva (after ivens), 5’02”.
  • Liliana SanchesPor dentro, selvagem, 1’23”.

“COTIDIANO-LEMBRANÇA”

  • Charles CunhaTô indo e não consigo sair do lugar. 9’00”.

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PROGRAMA #2

“TERRITÓRIO-CULTURA”

  • Wayner Tristão GonçalvesÀs moscas, 1’52”.
  • SulamitaOribatã Cuieté, 6’29”.
  • Matheus BorgesSintomas, 4’30”.

“CORPO-ESPAÇO”

  • Marcela CavalliniCorpo fronteira, 8’58”.
  • Rejane Arruda Resposta a Bataille, 3’35”.

“CASA-TEMPO”

  • Yurie Yaginumao apartamento de m. 3’00”.

PROGRAMA #3

“CORPO-ESPAÇO”

  • Ana XimenesExílio, 6’56”.
  • Marcelo VenzonDiagrama de momento, 5’14”.

“COTIDIANO-LEMBRANÇA”

  • Bruno Miranda (DE) Pressão, 1’46”.
  • Fagner FabreteQuerido Fagner, 3’45”.
  • João Giry Brigadeiro, 4’20”.

PROGRAMA #4

“COTIDIANO-LEMBRANÇA”

  • Esther Almeida BorgesA voz que a saudade tem, 9’14”.
  • Amanda Amaral objeto saudade, 5’10”.
  • Rafaela Stein você estava la. 4’24”.

“CORPO-ESPAÇO”

  • Gabriela Moriondo – SYNC, 4’53”.

FÓRUM DA IMAGEM

CONSTRUÇÃO DE IMAGENS URGENTES

A produção da imagem técnica fotográfica chega ao ponto máximo de sua especulação. Se por um lado teóricos da arte e da imagem questionaram a representação e seu encantamento dissimulado, por outro chegamos ao lugar da total ebriedade e auto-adoração da construção disfuncional de imagens.

Neste cenário no qual nos deparamos com o isolamento social impelido pelo Covid-19 se realiza, paradoxalmente, o momento da salvação pelas imagens. É fundamental que discutamos como temos produzido imagens, com que meios e com quais fins? Por onde a imagem do agora circula e perdura no tempo? Onde está a fotografia que vi a um segundo atrás? Quem são os milhares de rostos que vemos por segundo? Onde habitam as paisagens. O público e o privado? Os cartões postais turísticos, as cidades…

Catalogo impresso do Fórum da Imagem

Quanto mais produzimos imagem, temos imagem alguma. Seria esta a questão?

Atentos ao momento crucial de saúde, social e estético que estamos inseridos e enfrentando agora, a partir de 2020, a Galeria Homero Massena propõe seu primeiro FÓRUM DA IMAGEM, para promover o debate sobre a CONSTRUÇÃO DE IMAGENS URGENTESPor que produzimos imagens?

A proposta se orienta em um projeto de formação e difusão a partir da urgência do contexto, em que nos deparamos de sobressalto neste ano de 2020. O objetivo principal é norteado pelo debate sobre a demasiada produção de imagem fotográfica no contemporâneo e seu auge em período de isolamento social, regulamentado por decreto de estado de emergência em saúde pública.

Pretende-se incentivar a reflexão sobre os pontos aparentemente distantes entre saúde, sociedade e estética, tentando entender que a produção coletiva de saúde e a responsabilidade sanitária estão diretamente ligadas a como consumimos, produzimos e nos relacionamos esteticamente.

Nicolas Soares

Coordenador GHM

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TEXTOS PUBLICADOS

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LEITURA COMENTADA

O ciclo de Leituras Comentadas foi uma série de lives com as autoras e autores dos textos críticos do Fórum da Imagem

  • “O acervo como espaço de criação” de Lília Pessanha. Participação Rogério Felix (pesquisador), Gleicimar Marques (Educativo GHM) e Nicolas Soares (Coordenação GHM). [link]
  • “Jogo da Memória: Vê tanto que esquece” de Rogério Felix. Participação Maria Menezes (pesquisadora), Gleicimar Marques (Educativo GHM) e Nicolas Soares (Coordenação GHM). [link]
  • “A imobilidade na produção e o que isso diz sobre os artistas contemporâneos” de Amanda Amaral e Lindomberto Ferreira Alves. Participação Esther Almeida e Luis Maria (pesquisadores), Gleicimar Marques (Educativo GHM) e Nicolas Soares (Coordenação GHM). [link]
  • “Bucólico Marginal: uma experimentação em tempos pandêmicos” de Esther Almeida e Luis Maria. Participação Amanda Amaral e Lindomberto Ferreira Alves (pesquisadores), Gleicimar Marques (Educativo GHM) e Nicolas Soares (Coordenação GHM). [link]
  • “Por que as imagens me tem?” de Maria Menezes. Participação Lília Pessanha (pesquisadora), Gleicimar Marques (Educativo GHM) e Nicolas Soares (Coordenação GHM). [link]
  • FÓRUM DA IMAGEM: debate com as/os autoras e autores dos textos críticos selecionados. Com foco na discussão sobre a “Construção de Imagens Urgentes”, os textos abordam aspectos da memória, da identidade, da autoimagem, da história, da cultura, do território e do fazer artístico, amparados na urgência de seus debates. [link]

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Artistas

Artistas que participaram do fórum com imagens

Videografias do Meio

A arte é o MEIO pelo qual se podem elaborar as questões circundantes e constituintes do sujeito em seu MEIO, sua cultura. Por intermédio, ou mesmo na centralidade, entendem-se os processos artísticos como um caminho, um traço, uma reta em ponto de fuga que retorna à própria cultura a fim de reorganizar o MEIO e suas sociabilidades entre sujeitos, espaços e afetos. O lugar onde se vive e a comunidade que se integra. Ainda a identidade que te compõe ou as diversidades que te aproxima. Estamos nas interseções das multiplicidades dos MEIOS: ser mulher, homem, negro, indígena, lgbtq+, urbano, rural e tantas outras. Produzimos as desigualdades dos MEIOS entre pontos equidistantes nas extremidades – percursos rizomáticos. Somos teia sempre crescendo e transbordando pelo MEIO. Assim como produzimos as empatias, o olhar e a escuta atenciosa a si mesmo e ao outro: produzimos alteridade.

>> um caminho/um meio de >> uma maneira/uma forma de >> uma cultura >> um ambiente >> um lugar onde se vive >> uma comunidade >> uma identidade >> um povo >> um site-specific/site-specificity >> uma habilidade/uma prática >> uma condição >> uma circunstância >> uma intervenção >> uma intensidade >> um agente >> ARTE >>

Propomos os MEIOS (pelos quais produzimos, nos relacionamos e vivemos) atentos à importância e à urgência de nos entendermos como comunidade (dotados de aspectos comuns em nossas diversidades). Queremos pensar como nos relacionamos com o espaço, com a cidade, com o meio ambiente, com a comunidade que fazemos parte, com nossa própria identidade, com o outro; e o papel da arte nesta mediação.

A 2ª edição da mostra de vídeos da Galeria Homero Massena, VIDEOGRAFIAS DO MEIO, voltou atenção em discutir as possibilidades discursivas da arte por intermédio da linguagem videográfica, abrangendo a relevância da produção audiovisual no campo da arte e sua larga exibição institucional na contemporaneidade.

Nicolas Soares

Coordenador GHM

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Curadoria:

Vinte artistas foram selecionados a partir de chamada pública aberta pela Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult) em 2020. Meio ambiente, identidade, relações entre corpo e paisagem, cidade e memória foram questões abordadas pelos vídeos que compuseram a mostra.

A curadoria foi dividida em cinco eixos: Autorretratos, Ancestralidades, Urbanidades, Perfomatividades e Memórias.

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“AUTORRETRATOS”

João Victor Coser – (Editorial de Autodestruição ou PlasticFilm)

Bárbara Carnielli – (Insípido)

Deborah Moreira de Oliveira – (Manifesto Maquiagem )

Caio César Curvello Lessa – (Auto-percurso)

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“ANCESTRALIDADES”

Clébson Francisco (Não fique triste, menino)

Jaíne Muniz (Quantas vezes quis morrer quando não pude falar?)

Rafael Segatto Barboza da Silva (A seta do futuro aponta para frente)

Rebeca Ribeiro Palavras, Folhas , Alices, Doralices e Marias: delas a cura para estar na cidade)

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URBANIDADES”

Rick Rodrigues (Como existe se ainda existisse)

Letícia de Oliveira Fraga (Dentro e fora)

Bárbara Bragato (Estranho familiar)

Jéssica Sampaio e Yurie Yaginuma (TERRÃO)

Renato Ren (Imanência)

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“PERFORMATIVIDADES”

Charles ferreira da cunha (Ritual para provocar enchente)

Filipe Souza (A boca do mundo)

Marcos Martins (Parede-Malecón)

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MEMÓRIAS

Val Souza: (Essa história não está mais disponível)

Fredone Fone: (Puxadinho)

W.Tristao : (Redundância)

EXIBIÇÃO

A mostra aconteceu pelas redes sociais da Secult e da Galeria Homero Massena, além de transmissão exclusiva pela TV Educativa do Espírito Santo (TVE), em todas as quartas-feiras do mês de abril, às 19h45min.

Produção: Galeria Homero Massena.

Na Calçada

Nas calçadas das cidades diferentes linguagens artísticas interagem entre si e com o entorno, interferindo em nossa rotina. A calçada, ocupada artisticamente, deixa ser apenas uma paisagem/passagem corriqueira e torna-se assim um desvio: do olhar, do percurso e dos afetos na cidade.

A temporada ‘Na Calçada’ visou ampliar a comunicação e a potência entre o espaço expositivo e a rua, a fim de estreitar a relação entre a Galeria e aqueles que residem e circulam pela Cidade Alta (centro de Vitória) e proximidades. Desta forma, promovendo no espaço de fora ações artísticas: musicais, performances e intervenções.

O evento aconteceu durante as tardes de sábado do mês de fevereiro (01, 08 e 15), recebendo projetos de artistas locais contemplados pelos Editais do Funcultura (Secult).

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01/02

Geisa da Silva:

Intervenção urbana.

“Mapa da violência contra a mulher”. Edital Setorial de Artes Visuais.  

Doce Caseiro (Jenni Prélio e Alessandra Felix)

Música

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08/02

Gabriela Moriondo e Maicom Souza

Dança contemporânea

“CYBER”

Edital Setorial de Dança

A Transe (Francesca Pera e Fernando Zorzal)

Música

Edital Setorial de Música

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15/02

Natalie Mirêdia

Performance

Edital Setorial de Artes Visuais

André Prando

Música

Edital Setorial de Música

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Geisa da Silva – Mapa da Violência Contra a Mulher


Doce Caseiro

CYBER

A Transe

Natalie Mirêdia

André Prando


Produção: Galeria Homero Massena

Programa de Pesquisa e Formação

No ano de 2019 a Galeria Homero Massena iniciou o Programa de Pesquisa e Formação, uma série de encontros e palestras com artistas e pesquisadores do estado e de fora do estado, com renome e repercussão nacional e internacional, para discutir questões pertinentes à arte contemporânea e à cultura. O Programa de Pesquisa e Formação da GHM consistiu em elaborar discussões a partir dos temas e pesquisas propostas pelos artistas em exibição, através de seus projetos selecionados na categoria “artista estreante” do Edital de Exposição de Artes Visuais do Funcultura, assim endossando e difundindo as exposições do calendário 2019.

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Ayrson Heráclito (BA) – Rotas e Sacudimentos nas Margens Atlânticas

Recebemos então, na primeira edição do Programa, oito convidados artistas/pesquisadores, teóricos e acadêmicos, atuantes em Vitória e no estado do Espírito Santo, como de outros estados, com larga relevância e repercussão no cenário artístico-cultural nacional e internacional.

Solange Farkas ( SP) – Você sabe o que significa ser um artista do eixo sul do mundo?

Alguns deles foram Guilherme Marcondes (CE), Ayrson Heráclito (BA), Paulo Nazareth (MG), Solange Farkas (SP). Este intercâmbio se faz extremamente necessário, pelo compartilhamento mútuo entre as partes, o enriquecimento cultural promovido por cada um deles e a repercussão das ações, atividades, circuito, cenário cultural e artistas do estado.

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Hilal Sami Hilal (ES)

Com uma margem de público de mais de 300 pessoas em 15 encontros distribuídos em quatro meses, o Programa de Pesquisa e Formação da GHM reuniu interessados nos assuntos sociopolíticos culturais em torno da arte contemporânea. Um material rico e de grande pertinência foi apresentado ao público em diálogo direto com as exposições. Atentamos à importância da Galeria no cenário artístico e cultural da cidade de Vitória e do estado do Espírito Santo, reforçamos o papel educativo em constante desenvolvimento e o reconhecimento público deste exercício, prezando a formação, o acesso à informação, o desenvolvimento artístico e cultural de professores e estudantes das redes de ensino públicas (municipais e estaduais) e particulares, a aproximação e apoio à academia.

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Paulo Nazareth (MG)

A pesquisa proposta por este projeto teve como motivação o fortalecimento dos espaços não-formais para ensino/aprendizagem/mediação revigorando o conhecimento interdisciplinar e intercultural acerca do campo da arte, tendo como objetivo o aprofundamento na relação entre teoria e prática, a partir de relatos de experiências e apresentações de pesquisa. Além de promover o debate em torno das atividades da GHM com o intuito de ampliar o acesso do público a espaços expositivos e de auxiliar no processo em pesquisas individuais, com objetivo endossar o entendimento da relação matéria-espaço-público nas correlações de arte/vida/instituição.

Guilherme Marcondes (CE) – Alguns caminhos para pensar a legitimação de artistas negrxs na arte contemporânea brasileira

Curador

Nicolas Soares

Coordenação GHM

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MÓDULO I: ARTE, SOCIOPOLÍTICA E CORPOREIDADES

18/06 a 30/07

CRONOGRAMA

 1º Encontro: 18/06

Apresentação do módulo e visita guiada na exposição “O Trauma é Brasileiro” de Castiel Vitorino Brasileiro, contemplada no Edital para Exposições de Artes Visuais 019/2018 Secult.

2º Encontro: 25/06

Pesquisador convidado: Thiago Dantas

Carga horária: 2h

3º Encontro: 03/07

Pesquisadora convidada: Rízzia Rocha

Palestra: “Revisão do conceito de arte na História da Arte”.

 Carga horária: 2h

4º Encontro: 09/07

 Pesquisador: Nicolas Soares

 Palestra: “O artista no centro de sua etnografia”.

 Carga horária: 2h

 5º Encontro: 16/07       

Arte-educadora convidada: Tatiana Rosa

Palestra: “Eu, mediadora”.

Carga horária: 2h

6º Encontro: 17/07

Pesquisador convidado: Guilherme Marcondes (CE)

Palestra: “Alguns caminhos para pensar a legitimação de artistas negrxs na arte contemporânea

brasileira”.

7º Encontro: 22/07

Artista convidado: Ayrson Heráclito (BA)

Palestra: “Rotas e sacudimentos nas margens atlânticas”.

Carga horária: 3

8º Encontro: 30/07

Encerramento do Módulo I.

Carga horária: 2h

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Total de encontros: 8 encontros

Carga Horária: 17h

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MÓDULO II: O DESLOCAMENTO NA CONSTRUÇÃO POÉTICA

10/09 a 29/10 

CRONOGRAMA 

1º Encontro: 10/09

Apresentação do módulo e visita guiada na exposição “Distâncias do Sentir” de Khalil Rodor, contemplada no Edital para Exposições de Artes Visuais 019/2018 Secult.

Carga horária: 2h

2º Encontro: 17/09

Pesquisadora convidada: Rízzia Rocha

Carga horária: 2h

3º Encontro: 26/09

Artista convidado: Paulo Nazareth – artista (MG)

Apresentação de processo criativo

Carga horária: 3h

4º Encontro: 01/10

Bárbara Thomas (graduanda Artes Visuais – UFES)

Palestra: “A escuta dos ruídos – plano acústico”

Carga horária: 2h

5º Encontro: 09/10

Artista convidado: Hilal Sami Hilal (ES)

Apresentação de processo criativo

Carga horária: 2h

 6º Encontro: 15/10

Pesquisador: Nicolas Soares

Apresentação a partir do texto “Arte em Guerra”, Boris Groys

Carga horária: 2h

 7º Encontro: 22/10

Pesquisadora convidada: Solange Farkas (Diretora e curadora da Associação Cultural Videobrasil – SP)

Palestra: perspectivas artísticas do Eixo-sul geopolítico

Carga horária: 3h

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Total de encontros: 7 encontros

Carga horária: 15 horas

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Curadoria

Nicolas Soares

Coordenador GHM

Coordenação

Nicolas Soares

Rízzia Rocha (pesquisadora convidada)

Produção

Galeria Homero Massena


Videografias do Corpo

A Arte tem implicação na vida, entende-se, menos um devaneio inebriante e lúdico de escape do real em si – uma alegoria qualquer de entretenimento –, e sim, mais um efeito sólido, incômodo, contagiante – o embaraço de um mictório na sua sala de jantar. A Arte está nos emaranhados das ações sistemáticas e seriais do cotidiano, no tráfego, na dinâmica da cidade, nos embates sociopolíticos, na divisão de renda, classes, gêneros e sexualidades, nas relações interpessoais públicas e privadas. Está no recôndito, no doméstico, no íntimo como público; a Arte tem implicação na vida.

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[A batalha da Arte é com a própria Arte – em ser vida]  

Porque a Arte está na batalha diária do sensível como movimento elogioso ao intangível, ao não-tratado e ao somático da vida. É por onde se tem a oportunidade de destruir e construir e reconstruir [no compasso eterno do homem como potência demiúrgica]. Não como gênio, mas como possibilitado de criação, no campo da elaboração do sensível, na materialização de ideias, na recomposição necessária dos decompostos negligenciados, do deslocamento no espaço (site), no lugar (pertencimento) e no tempo (alcance).

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VIDEOGRAFIAS DO CORPO é uma pequena exibição que se atenta às possibilidades de remodelação do corpo sociopolítico. O corpo como trincheira no encontro com o outro na batalha do relacionar-se, do identificar-se. O corpo como quilombo para os enraizamentos de novas subjetividades – do ser humano em ser coletivo. O corpo como farpa que rasga o tecido do sabido e estipulado e reorganiza a tomada de outros corpos possíveis. A exceção. Quer-se apresentar, aqui, o não-dito, o velado, o varrido, o deixado de lado. Pois a Arte se importa em sublinhar os virtuosismos, os preconceitos, os marginalizados, os rechaçados, os apagados e os nunca escritos. Entende-se que assim se escreve e inscreve a história contada daqui a diante; a expressão de um povo, sua face admirável e seu avesso abjeto.

Nicolas Soares

Curadoria

Coordenador GHM

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A mostra Videografias do Corpo, 18 a 23 de fevereiro de 2019, apresentou um panorama de artistas e produtores audiovisuais nacionais e internacionais que trabalham com a possibilidades de remodelação do corpo sociopolítico, as subjetividades subalternizadas na esfera pública hegemônica (branca/hétero), além de questões voltadas a ancestralidade e negritude.  O projeto expositivo foi proposto pelo coletivo Casa 310; uma instalação de mobiliários que pensa as formas de exibição e a experiência do espectador, especialmente para o espaço da galeria.


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Artistas e Produções:

Translúcidos –

Realizado pelo Coletivo Gleba do Pêssego e dirigido por Asaph Luccas e Guilherme Candido, “Translúcidos” narra a vida de pacientes presos em uma clínica de tratamento de disforia de gênero.

Yeda Brown – Efeito Borboleta

O documentário “Yeda Brown – Efeito Borboleta”, uma produção da FACHA – Faculdades Integradas Hélio Alonso, com direção de Pedro Murad, conta a história da atriz Yeda Brown, uma das primeiras transexuais brasileiras (transgenitalizada em 1975), última musa de Salvador Dalí, e sua relação com o artista.

GISANTS#GILLES#PASTOR (ALBUM) –

Vídeo/slide feito com selfies e fotografias anônimas, de amadores e profissionais postadas no Facebook utilizando as tags #GISTANTS #GILLES #PASTOR, criado em 2015 por Gilles Pastor.

“bikini quadradão” – Yuri Tripodi –

Desenho|composição de vestimenta para uso cotidiano sentidos de pensamento quadrado [enquadrado conservador] e significados geometricamente a partir de) formas do quadrado e linhas retas, cores tropicais pra a[s]cender o desbunde.

Cais do Corpo –

Dirigido por Virginia de Medeiros e realizado durante a “revitalização” da Praça Mauá, na zona portuária do Rio de Janeiro, o filme é uma abordagem sobre as transformações do lugar a partir do universo da prostituição em sua dimensão social e política: enquanto as vozes narram à violência e a opressão do projeto urbanístico sem planejamento, os corpos afirmam, no seu erotismo e performatividade, sua resistência a esse modelo.

Baile-

“Baile” foi produzido pela artista Rubiane Maia durante uma residência artística no Vilarejo de Cemitério do Peixe no interior de Minas Gerais, conhecido como uma cidade-fantasma pelo fato de abrigar apenas três habitantes e várias casas vazias. Segundo os antigos moradores da região, os escravos eram enterrados à beira do rio, e ainda é possível escutar o som de tambores e cantos trazidos pelo vento.

WebDoc Corpo Flor –

O documentário de Izah Candido e Wanderson Viana investiga como os corpos negros que fogem da normativa heterossexual dialogam com o mundo, em seu prazer e sua resistência contra uma estrutura de controle e subalternização.

A Massa É Bi / La Massa És Bi” –

No vídeo clipe de “A Massa É Bi / La Massa És Bi” a artista Berna Reale apresenta Bi, uma personagem cor de rosa que possui características físicas masculinas e femininas.

Projetando Afetos em Afinidades Possíveis

A Galeria Homero Massena promoveu junto ao Palácio da Cultura Sônia Cabral um diálogo que atravessa a exposição de itinerância da 33ª Bienal de São Paulo, em exibição no Palácio Anchieta. A proposta remontou o trabalho “BOA VISTA e a imagem-tempo” da artista Raquel Garbelotti; uma vídeo-instalação realizada para a 25ª Bienal de São Paulo em 2002. Em ocasião da exposição em cartaz na galeria (“Trabalho do Chão”, de Cláudia França) e as questões para qual ela aponta relacionadas à “arquitetura x paisagem”; “interior x exterior”, “público x privado”, por exemplo, junto ao tema central da 33ª Bienal de São Paulo “Afinidades Afetivas”, em itinerância na cidade; reativamos a pesquisa de Raquel Garbelotti e sua atenção ao site-specific, tridimendicionalidades, espacialidades, materialidades, arquiteturas e paisagens e afetos.“BOA VISTA e a imagem-tempo” apresentado na 25ª Bienal em 2002, ainda inédito no Espírito Santo, foi exibido como uma vídeo-instalação na sala principal do Palácio da Cultura Sônia Cabral no dia 9 de abril, às 18:00. Seguido de um encontro para debater as questões transversais da sua pesquisa Raquel Garbelotti dialoga com a professora do departamento de Artes Visuais da UFES, Aline Dias. Raquel Garbelotti é professora de escultura no Departamento de Artes Visuais da UFES e pesquisa vídeo-instalação, cinema de exposição e site-specific.

Vídeo-instalação realizada para a 25a Bienal de São Paulo. Núcleo Cidades – São Paulo. 2002.

Projeto :

O projeto consistiu na documentação de três estações de trem situadas no eixo Rio de Janeiro e São Paulo (Agulhas- Negras e Engenheiro Passos no Rio, e Queluz em São Paulo). As imagens captadas, apresentam o abandono das edificações e perda das funções originais desses espaços. Uma delas, tornou-se residência dividida por várias famílias, e outra encontrava-se fechada.

Essas imagens apresentam um estado de tempo em iminência, pois muito pouco ocorre na sequência de imagens – paradas, quase fotográficas. As múltiplas vistas em constante looping, de cada uma das estações, documentam as fachadas e o redor delas, buscando reconstituir o espaço arquitetônico e seu em torno.O título Boa Vista refere-se ao primeiro nome dado a Estação Engenheiro Passos, mas também a algo nostálgico, do passado destas edificações. Esta ferrovia que compreende as edificações documentadas, passa ao lado da Rodovia Presidente Dutra ou BR 1164, e faz a ligação entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

O som proeminente que se ouve na trilha de cada vídeo, é o desta Rodovia. Na edição da trilha sonora, juntamos o som de cada uma delas, sobrepondo e construindo uma trilha comum aos três vídeos. A espacialização deste projeto, ocorreu pela primeira vez no pavilhão da Bienal de São Paulo. O projeto consistiu numa sequência de três vídeos, projetados na altura dos rodapés da sala. Foi construído para a instalação, uma sala de 20 metros quadrados, e os vídeos foram assim projetados em três diferentes paredes. A ideia de apresentar os vídeos em escala reduzida próximo ao chão, foi de aproximar as imagens à modelos ou maquetes, identificando-as com a disfunção original destas arquiteturas e a possibilidade de montagem das partes pelas diferentes vistas, como na ideia de um modelo.

No chão da sala foram colocados almofadas grandes, para que o espectador pudesse sentar-se ou até mesmo deitar-se para ver as imagens. Esta video-instalação pensava as políticas de representação do projeto desenvolvimentista. Embora as imagens apresentassem as estações, o som era basicamente constituído pelo fato sonoro contínuo da Rodovia Presidente Dutra. Em alguns pontos do video, pode-se ouvir o som do trem (cargueiro) na trilha comum que reúne a os três videos – o que passa tanto nas imagens de Queluz como nas de Engenheiro Passos e Resende.

Ao documentar o lado oposto ao da Rodovia, o das estações de trem, temos imagens durativas e poucas situações de ação ocorrendo. O que ouve-se no entanto, é a proeminência sonora da Rodovia, que nos vídeos não se vê. Ocorre portanto certa disjunção entre imagem e fato sonoro. Aqui podemos pensar, na idéia de hegemonia como proeminência de um fato. Neste sentido temos o fato sonoro, que é o da Rodovia Presidente Dutra. Porém, as imagens durativas das estações, provocam a disjunção entre som e imagem introduzindo o elemento antagônico ou disjuntivo. O som local, é realmente abafado pela Rodovia, principalmente na estação de Resende. Na de Queluz, pela localização mais afastada da Dutra, não se ouve o som desta Rodovia. Dada a edição sonora, que amalgama todas as três trilhas, temos o som da Rodovia como um dado constante da trilha final. Neste sentido, o som desta Rodovia é o fato hegemônico (que produz uma “imagem” ou presença constante da Rodovia, mas que não aparece enquanto imagem nos vídeos) da instalação. Creio ser, nesta relação sonora com as imagens durativas e quase fotográficas das estações, que ocorra o fator antagônico e disjuntivo que pode ser traduzido aqui como forma política de representação, na medida em que a instalação não constitui um ponto de vista privilegiado, mas problematiza as instâncias desse lugar total da representação – sobretudo do desenvolvimentismo no país. O fato sonoro produz também, uma condição para pensarmos a face invisível daquelas arquiteturas; sua constância nos vídeos e sua presença-ausência, que podem produzir outro espaço narrativo. De certa forma, a narrativa que justificaria a produção daquelas imagens, não se dá de forma linear, mas subentendida a estratégia instalativa das imagens.

Raquel Garbelotti

A Memória e o Futuro da Arte Contemporânea no Espírito Santo

“A memória e o futuro da arte contemporânea no Espírito Santo”

Em comemoração aos 40 anos da Galeria Homero Massena  realizou no dia 03 de maio uma mesa redonda com Bernadete Rubim e Thiago Arruda sobre a atuação da Galeria no cenário da contemporânea. A proposta é imaginar o futuro sem perder de vista o passado, começando pelo texto do Nenna que sairá no Caderno Pensar do dia 29 de abril.

BERNATE RUBIM

A pesquisa de Bernadete é uma reflexão sobre a dinâmica relacional da história das políticas públicas culturais do estado do Espírito Santo atuando na materialização da criação da Galeria Homero Massena. Trata da análise das estratégias adotadas pelo Estado do Espírito Santo para a área cultural, numa abordagem que questiona as artes visuais e o panorama do ensino das artes em Vitória, que coloca em relevância as interfaces de aspectos políticos e usa como linha condutora de reflexão a formação dos espaços culturais para exposições. Assim, é no estudo do contexto da criação da GHM, no ano de 1977, e na análise de sua atuação até os dias atuais que destacamos as políticas públicas implementadas para as Artes Plásticas no nosso Estado. Consideramos que a GHM foi o primeiro espaço criado especialmente para organizar exposições na cidade de Vitória e consideramos que sua atuação ininterrupta até a atualidade pode refletir sua relação com o contexto social, mantendo, frente a ele, uma posição de resistência a partir do campo das artes.

THIAGO ARRUDA

“A presente pesquisa tem como objetivo analisar a atuação da Galeria de Arte Álvaro Conde (GAAC) a partir de 1986, ano em que foi reaberta, e suas contribuições para a ampliação do repertório das artes plásticas no estado. Para isso, faz uma leitura histórica sobre o panorama socioeconômico e cultural do século XX, no Espírito Santo, bem como suas interlocuções com as políticas públicas voltadas para a arte e a cultura.

Este estudo concentra-se em um ciclo de mostras estaduais, entre 1987 e 1988, e propõe uma reflexão sobre as exposições, a galeria e seu acervo. Ao resgatar a história desse espaço, destaca-se sua importância para o cenário local das artes, em contraponto com o isolamento cultural e as desiguais condições de produção e divulgação das artes no Espírito Santo, quando comparado a outros estados do país. 

Produção: Galeria Homero Massena

Reverso

O que é o essencial em uma obra contemporânea?

Reverso tem na sua genealogia esta pergunta, lançada ao artista no processo de documentação de uma instalação de arte. Modalidade de produção artística de bordas muito flexíveis quanto a materialidade com as dinâmicas que propõem, as instalações representam um desafio particular na documentação museal. Impossível de serem conformadas em protocolos destinados às obras de formatos tradicionais, como pinturas, esculturas, gravuras ou fotografias, as instalações foram objeto de diversos projetos de investigação internacionais que resultaram em novos protocolos indicados para a documentação deste grupo de obras.

Em 2015, como parte do projeto doutoral da professora e conservadora – restauradora Gilca Flores foi iniciada uma pesquisa dirigida às instalações do acervo da Galeria Homero Massena. Além de gerar novos conhecimentos e informações úteis à conservação das obras, o projeto visava um trabalho colaborativo que contribuísse para a atualização dos protocolos de documentação dirigidos às instalações desta coleção. Neste processo, a entrevista ao artista se confirma um recurso indispensável para se compreender a obra em sua dimensão material e imaterial.

Caranguejada – Irineu Ribeiro

A investigação desenvolvida resultou em uma documentação ampliada e planos de conservação preventiva dirigidos às cinco instalações exibidas nesta mostra: Caranguejada, de Irineu Ribeiro; Desvio do espaço, de João Carlos de Souza; Transposição e adensamento e Ocupação mínimo-máxima do espaço, de Luciana Ohira e Sérgio Bonilha; e Projéteis, de Marcelo Gandini.

Projéteis – Marcelo Gandini

As cinco instalações estão reunidas pela primeira vez em uma exibição na Galeria Homero Massena. Partindo de um exercício do olhar e da relação espacial entre o corpo e o local expositivo. João Carlos de Souza se afirma escultor do ar. Os nós com que o artista interfere na corda desviam a direção da linha e cria uma forma que faz do espaço sua matéria. Os artista Luciana Ohira e Sérgio Bonilha exercitam as relações espaciais e temporais que estabelecem em seus trabalhos. Em ocupação mínimo-máxima do espaço se evidenciam as relações de dependência entre artista, obra e instituição e o percurso da obra no espaço e no tempo se expões como processo. Transposição e adensamento questiona nossa capacidade de memorização diante de uma paisagem urbana em constante transformação e se materializa na parede a partir de um processo colaborativo entre atsitas, instituição e público. Em Caranguejada, os caranguejos elaborados por Irineu Ribeiro remetem ao ecossistema manguezal e a tradição ancestral do uso da argila e a tradição das paneleiras.

Transposição e Adensamento – João Carlos de souza

Nas figuras completas e incompletas Irineu expõe também seus processos de criação desta figura. Em projéteis, ao investigar as vítimas fatais por uso da arma de fogo e expor seus nomes, Marcelo Gandini lhes confere a subjetividade de indivíduos que os números estatísticos negam. Seu trabalho proporciona uma imersão e nos cobra uma reflexão sobre o tema da violência urbana.

A elaboração de uma exposição de arte proporciona um espaço de colaboração entre diferentes áreas e uma rede de comunicação pode ser ampliada entre artista, os organizadores e o público. Reverso traz o trabalho coletivo para a Galeria Homero Massena a fim de expor não somente as obras, mas também os processos necessários para que a exposição construída coletivamente, desde as conversas iniciais até sua concretização, envolvendo discentes, técnico e docente do Centro de Artes da Ufes.

Gilca flores e Jaime Muniz

Exposição realizada juntamente com o núcleo de conservação e restauração do centro de pesquisa, UFES.
Dia: 27 de novembro de 2019 até 01 de fevereiro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca.

Distâncias do Sentir- Khalil Rodor

Visitação: de 11 de setembro até 09 de novembro de 2019.

Numa época em que a guerra na Síria coloca o país na linha de frente de uma crise de refugiados em escala global, a exposição proposta por Khalil Rodor, na Galeria Homero Massena, regasta outro fluxo migratório do povo sírio, ocorrido um século antes, que trouxe seus antepassados ao Brasil, investigando aqui seus desdobramentos culturais e familiares. Busca-se aqui discutir a relação entre memória e diáspora a partir dos modos com que seus deslocamentos (espaciais, simbólicos, afetivos) ressoam diretamente no cotidiano das pessoas. Na tensão entre a origem e o presente, o peso da herança cultural e os diversos hibridismos e escolhas individuais que também compõem nossas identidades ficam duas indagações complementares: A que lugares pertencemos? E de que modo esses pertencimentos podem ser sobrepostos e friccionados através do gesto artístico?

Distâncias do Sentir busca entender como a memória modifica o que a circunda e, por extensão, o que nos rodeia – ou seja, o cotidiano e seus afetos. Nas palavras de Khalil, “ela parte de duas terras, uma reminiscente, outra presente, que se atualizam entre si”. Criando novos modos de se pertencer. Ao reunir objetos, instalações e um filme de curta-metragem (O Mascate), elaborados a partir de elementos oriundos da história familiar do artista, sobrepõem-se diversos deslocamentos: o espacial, empreendido pelo seus bisavô Mohamed ( rebatizado como Américo ao chegar ao nosso continente), ao percorrer o oceano em busca de melhores condições de vida; o sígnico, dos vestígios e objetos ligados ás lembranças de sai família, que se reconfiguram no espaço expositivo como trabalhos artísticos; e o virtual, inerente ao ato de se rememorar, que aqui se desloca do artista e seus parentes, guardiões do legado cultural familiar, aos visitantes, instigados a estabelecer novas conexões ( ainda que de aderência momentânea) a partir de suas memórias e experiências pessoais – o que acaba por desencadear um quarto deslocamento, situado na esfera dos afetos.

Essa exposição ampla a investigação iniciada por Khalil no documentário Emigro (2020). O título é um anagrama da palavra “origem”, dentro de um empreendimento de reimaginar a herança migrante (com base nas lembranças e histórias contadas por sua avô), a partir de uma dimensão íntima, familiar e individual, que move o gesto do artista, desvelando suas inquietações.

Emigrar é colocar-se em constante movimento, é redesenhar distâncias, aproximar sensações. Quem migra esvazia suas casas para poder partir, elegendo alguns pertences como relíquias íntimas a serem transpordas conseguem, e que serão, simbolicamente, as pedras angulares de um novo lar a ser construído alhures, Américo, ao chegar ao Brasil, adotou o ofício de mascate, aquele que se desloca de cidade em cidade, comercializando mercadorias que iriam habitar casas (e corpos, no caso dos tecidos) de seus futuros clientes- objetos de revestidos de afetos, consolidariam essas habitações também como lares. Acumular e esvaziar são ações fundamentais no processo migratório e, portanto, são tão preciosos à história familiar de Khalil daí serem os pontos de partida para a experiência proposta por Distâncias do Sentir.

A diáspora, ao lança os indivíduos em trânsito, permite que a variável “impermanência” lhes atravesse intensamente. Isso explica a recusa, no desenho expográfico, de trajetos retilíneos e suas simplificações- daí o movimento em espiral, presente tanto no caracol desenhado no chão quanto na escada percorrida pelo mascate, ou ainda as ramificações da árvore, o oscilar dos tecidos suspensos ou mesmo o olhar para si que o espelho afixado à porta nos impõe, logo no começo dessa jornada.

Se a nação, para Benedict Arderson, é uma comunidade imaginada, podemos deduzir que ela é constantemente reimaginada, tanto por quem migra, quanto pelas diversas gerações de seus descendentes, num processo que vai se intensificando por conta das identidades culturais cada vez mais hifenizadas. É um processo híbrido e bastante complexo e, por isso mesmo, repleto de derivas, desvios e bifurcações; Stuart Hall, em seu livro Da Diáspora, vai nos lembrar que, nessa reinvenção cultural, “ não é uma questão do que as tradições fazem de nós, mas daquilo que nós fazemos de nossas tradições”. A cultura é uma dimensão coletiva, mas o que interessa a Khalil é percorrer esses enclaves íntimos, incrustados na esfera familiar: É deslocar por alguns instantes para as ressonâncias e rasuras possíveis de se operar no gesto individual de reorganizar e tensionar o simbólico e o sensível para, em seguida, devolvê-las ao próprio tecido social.

Daí essa escolha de signos cotidianos e pessoais transportados para dentro da galeria: a porta (que era transferida para cada nova residência da família no Espírito santo, até hoje encontra-se na casa em que o artista reside), o caracol das brincadeiras de infância na areia da praia, o leito suspenso composto dos tecidos finos que seriam usados nas roupas de festa, a árvore que se torna genealógica a partir da presença dos cristais, instrumentos de trabalho da mãe de Khalil, e o filme que reimagina as fotografias e histórias de família narradas por sua avó. Ou seja, pratica-se aqui a reinvenção da memória num constante processo de reinvenção de si, dado em vários estratos temporais (do artista, de seu bisavô e de seus outros descendentes).

Texto: Erly Vieira Jr.

*A exposição “Distâncias do Sentir” contou com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 019/2018.

Khalil Rodor

Khalil Rodor  é artista, natural de Jacaraípe – Serra. Com fortes influências de sua graduação em Cinema e Audiovisual pela Ufes, transita entre o Vídeo, a Performance e a Instalação. Vê na arte a possibilidade de construir territórios, dar contorno a questões afetivas que não possuem uma contraparte material estabelecida.  Criar um novo território se faz sob a afirmativa de destruir o velho. E é através da dinâmica do esvaziamento e preenchimento que se busca entender os trânsitos de emigração, como a de sua própria família vinda da Síria. Investigar o pertencimento – pertencer a algum lugar ou a alguém – sob a ótica da emigração e memória familiar são questões que estão presentes na exposição desenvolvida na Galeria Homero Massena. 

Exposição: Distâncias do Sentir, Khalil Rodor.
Dia: 11 de setembro de 2019 até 09 de novembro.
Local: Galeria Homero Massena – Rua Pedro Palácios, 99 – Cidade Alta, Vitória – ES
Entrada Franca!